terça-feira, 20 de dezembro de 2011

CARTAS NÃO REMETIDAS - A MADAME MIMI

Feira de Santana, dezembro de 1966.

Estimada Madame Mimi,

Em primeiro lugar, quero agradecer pela semana de folga concedida, para visitar minha família, nesta cidade denominada Princesa do Sertão, pelo consagrado jurista Rui Barbosa. Durante a viagem, que fiz no ônibus leito, da Itapemirim, tive a oportunidade do deleite de uma leitura, que nos faz pensar nas coisas, deste nosso sofrido país. Digo nosso, porque, apesar da sua nacionalidade francesa, da sua educação parisiense, tenho assistido a sua dedicação a nossa cultura, valorizando o que há de mais sagrado para um povo, que é a sua musica, e neste ponto, sou testemunha. Após a leitura de Crime e Castigo, de Dostoiévski, presente recebido de suas mãos, tenho agora o prazer de conhecer as idéias, deste inglês, que honra a literatura universal, pelos seus pensamentos, que é o querido Thomas More. Durante a viagem, pude, com o auxilio de uma lâmpada colocada acima da poltrona, fazer minha leitura, sem perturbação, tendo uma pausa, apenas, para dar atenção a dois curiosos advogados, companheiros de viagem, que se intrigaram com a minha sede de saber, vez que, em nenhum momento dormi, no percurso de vinte e quatro horas, que separam a Cidade Maravilhosa da Cidade Princesa. Estou encantado com o livro, de confecção simples, popular, mas de uma grandiosidade sem par, que é Utopia. More, me fez lembrar, pela sua intenção de construir uma sociedade justa, honesta, digna, o hoje cassado injustamente – João Goulart, que tentou a reforma de base e foi expurgado pelas forças retrogradas de militares comprometidos com a desnacionalização do Brasil. Vendilhões da pátria, que se locupletam com benesses oferecidas, pelo imperialismo norte americano, que irá nos aculturar, nos catequizando e saqueando as nossas riquezas. Aproveito para falar um pouco deste que foi o Chanceler Britânico, de maior sapiência, morto e decapitado pelo déspota, Henrique VIII, só porque teve a dignidade de pensar livremente, conforme as suas convicções.
São Sir Thomas More, por vezes latinizado em Thomas Morus, (Londres, 7 de Fevereiro de 1478 — Londres, 6 de Julho de 1535) foi homem de estado, diplomata, escritor, advogado e homem de leis, ocupou vários cargos públicos, e em especial, de 1529 a 1532, o cargo de "Lord Chancellor" (Chanceler do Reino - o primeiro leigo em vários séculos) de Henrique VIII da Inglaterra. É geralmente considerado como um dos grandes humanistas do Renascimento. Foi canonizado como santo da Igreja Católica em 9 de Maio de 1935 e sua festa litúrgica se dá em 22 de junho.
Após prestar os mais valiosos serviços a Inglaterra, por suas convicções religiosas e doutrinárias,Thomas More, recusou-se a apoiar o divórcio do Rei Henrique VIII, foi preso, confinado, condenado e decapitado. Deixou como Obra célebre o livro “UTOPIA”, palavra que vem do grego (utopos = em lugar nenhum), para criar uma ilha, habitada e governada por pessoas íntegras, lugar onde não existe a desonestidade, a corrupção, o enriquecimento ilícito, a vaidade e o déspota. Nesta ilha havia uma sociedade perfeita e um governo justo. Daí, denominar-se utopia como sinônimo de tudo aquilo que se imagina, mas, impossível de se alcançar.
Madame, o clima político aqui, não é diferente. A repressão atinge todos os setores, inclusive o cerceamento do direito de ir e vir. Até nos lupanares, estão intervindo, proibindo a atividade sexual de homens que pensam ser livres, e que não são respeitados, pela rigidez de um Capitão Capelão, que desconhece até os princípios religiosos, humilhando o semelhante, num verdadeiro abuso de poder, adotando uma postura eminentemente nazista. Retorno no domingo, para este canto encantado, ainda, que é o Michel, para dar continuidade a profissão que escolhi, cantando para alegrar corações apaixonados, neste ambiente tão acolhedor, estruturado pela sua sapiencia. Recomendações a Braguinha, Stanislaw, Sergio Cabral e Fernando Lobo, abituê das madrugadas.

Um grande abraço, deste que muito lhe admira,

Milton.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

CARTA PARA ANA MARIA

Feira de Santana, 12 de novembro de 2011.


Querida amiga, Ana,


Como é do seu conhecimento, comemoro o meu aniversário, e, já se passaram muitos anos, desde que nos conhecemos. Seria hoje um dia para falar de coisas boas, com musicalidade e poesia. Jurei que não falaria de coisas ruins, de maus presságios, agouros, bruxas e malversação, mas, quebrei a minha jura, por causa dos juros exorbitantes praticados pelos Bancos e demais instituições financeiras, em detrimento da população necessitada, dos consumidores inevitáveis deste mercado torpe que nos alimenta a peso de ouro, que não possuímos, mas paga o preço, e a maioria das vezes sucumbe, embora o governo federal diga que a inflação é de 0,6 e conceda aumento salarial de 6% ao ano para os trabalhadores, enquanto os parlamentares se dão aumento de 70%, pra trabalharem de segunda à quarta, ou seja, três dias por semana, uns na parte da tarde e outros pela manhã, num esforço hercúleo para não morrerem de tédio em suas riquezas ilícitas, com 13º e 14º salários, além da ajuda palito e outras benesses, engabelando todos nós,. Pesquisando a minha árvore genealógica, descobri que tenho herança genética de Diogo Álvares Correia – o Caramuru, homem valente, que sobreviveu após um naufrágio e foi temido pelos índios antropófagos, daí o meu destemor. Pois é, minha amiga. Fico pasmo quando leio que nosso País é inviável porque perde para a corrupção R$ 85 bilhões de reais por ano; tem uma máquina burocrática que cresce mais do que o PIB e cobra 40% deste em impostos, mas não consegue zerar o déficit público, gerando energia elétrica pelo método mais barato do mundo e a entrega ao consumidor por um dos preços mais elevados do planeta, com a carga tributária mais injusta do mundo civilizado, batendo em nossa porta para cobrar a maioria das vezes o indevido. O nosso dinheiro aplicado em caderneta de poupança rende 0,6% ao mês, mas o nosso cartão de crédito nos cobra até 19,9% ao mês; o cheque especial 8,21% ao mês e 158,03% ao ano, uns, e outros, CET de 9,66% ao mês e 207, 080% ao ano, com juros mensal de 9, 030% e anual de 182,19%. É ou não é um assalto aos nossos parcos rendimentos do labor suado? É ou não é uma afronta ao nosso povo desprotegido, tutelado por leis injustas que só beneficia os poderosos, corruptos e corrompidos? Enquanto isto todas as igrejas de todas as religiões são isentas de qualquer tributo, assim declarado pela Carta Magna, que ainda diz - “todos são iguais perante a lei”. No meu labor advocatício as decepções somam-se aos milhares. Juízes e Promotores se julgam deuses e nós, pobres mortais, submissos ao império dos incompetentes. Só temos direito ao “jus esperniandi”, porque a deusa vendada ficou surda e muda. Ainda hoje recebi uma intimação de um processo que tramita desde os idos de 1982, com o despacho brilhante de um Magistrado – “Diga a parte autora se tem interesse no andamento do feito”. Como se a postulação fosse um ato inócuo. Parece brincadeira. Como a Bela Adormecida, espera o judiciário pelo beijo ressuscitador, para acordar do pesadelo da inércia. Os demandantes morreram e o advogado se aposentou. Fez-me lembra de um processo que encontrei devolvido pelo Egrégio Tribunal de Justiça, no ano de 1986, cujo ajuizamento se deu em 1876, para dirimir uma disputa indenizatória, envolvendo dois Carpinteiros, - um, o autor de uma engenhoca, que facilitava a confecção dos móveis, contudo, seu empreendimento lhe custou as ultimas reservas financeiras e para sobreviver tomou emprestado um valor em dinheiro na mão de um colega de profissão, dando em garantia o depósito da bendita máquina, que fora usada indevidamente pelo financista, que ganhou muito dinheiro, vez que o equipamento deu maior velocidade para a sua indústria. No acerto de contas, o inventor pediu uma indenização ao financista pelo uso não permitido do invento, e que fosse deduzido do seu débito financeiro o lucro obtido pelo seu credor. Pois é, durou a demanda 110 anos. Não observei se houve sentença. Todos haviam morrido, – partes, advogados e juízes. Este é o nosso país, este é o homem.

Para não me estressar ainda mais, e enfartar, falo do ultimo livro que lancei, com sucesso: – “Cronicidade” e do CD “Besame Mucho”. Estão perfeitos. Seguem em anexo. O primeiro contem 72 crônicas e o segundo 18 boleros inesquecíveis.

Felizmente, a literatura e a musica são legados dos deuses do Olimpo, aos poucos privilegiados, que são - os que produzem; os que lêem e os que ouvem. Infelizmente são poucos.

Um grande abraço, do amigo,


Milton.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

SOBRE A HONRA

De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.

Rui Barbosa

NÃO TENHO VERGONHA DE SER HONESTO. TENHO VERGONHA DE VIVER NUMA SOCIEDADE COMPOSTA COM TANTOS DESONESTOS,TENDO QUE CONVIVER COM ELES E AINDA CUMPRIMENTÁ-LOS.

MILTON

domingo, 13 de novembro de 2011

CARTAS NÃO REMETIDAS

Rio de Janeiro, setembro de 1963.

Querido Irmão,

Há alguns meses me mudei para o Flamengo, bairro da Zona Sul, que fica depois do Bairro da Glória e antes do Bairro de Botafogo, com destino ao túnel do tempo que é o chamado Túnel Novo, por onde se chega ao ainda nobre Bairro de Copacabana, onde tudo acontece, desde o mundo maravilhoso das artes, do belo, da música, do Teatro, aos inferninhos das prostitutas, bichas e lésbicas. Aqui se vive a experiência dos contrastes não vividos nas cidades do interior, de famílias tradicionais e das coisas ocultas, que a moralidade desconhece. Aqui é o limite entre o moral e o imoral, entre o presente e o futuro que o passado não aceita, mas que é a verdade nua e crua de uma mudança dos costumes, já cantados por civilizações antigas, tipo Sodoma e Gomorra. Tem também o lado maravilhoso dos sonhos por realizar. Mas, vamos falar de saudade. Hoje acordei com a lembrança de nossos tempos vividos em Salvador, esta capital que abriga poetas versejando pelas madrugadas em noites de serestas, no silencio das madrugadas, quando se calam os bondes e as marinetes no vai e vem infernal. Então me lembrei do Colégio Central, onde você estudava, e da Pensão de Bonifácio, que lhe hospedava, ali, na transversal entre o Relógio de São Pedro e a Avenida Joana Angélica. Lembrei-me, também, da Caserna, do Quartel do Barbalho, quando você prestou o serviço militar no glorioso Exército Brasileiro enquanto eu era incorporado à Força Aérea. Seu amigo e colega de farda, Evandro, amante da poesia, dizendo versos de AUGUSTO DOS ANJOS, nas noitadas da Mouraria, em memoráveis serenatas, não posso esquecer.
Lembro-me de uma delas, de difícil entendimento, mas de beleza incomensurável:
Vandalismo

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos...
E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
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Sobre o Poeta: Augusto dos Anjos
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Paraíba, 20 de abril de 1884 - Leopoldina, Minas Gerais, 12 de novembro de 1914), poeta brasileiro. Foi Advogado e morreu vítima de tuberculose, desiludido, e seu único livro publicado pós-morte, foi - EU E OUTRAS POESIAS, apesar de ser considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa.


Fico por aqui.
Um grande abraço, a todos.
Com muita saudade, me despeço,
Do mano, Milton.
Do Livro “CARTAS NÃO REMETIDAS”.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

CARTAS NÃO REMETIDAS -Verão de 1964

Rio de Janeiro, Verão, de 1964.



Caro amigo, Dida,


Como diz o poeta – “Faz silêncio, mas eu canto”.

Aqui, depois da instalação da ditadura militar, o que mais existe é o temor de uma reunião e de um bom papo, vez que, o encontro de mais de três, é complô, é atividade subversiva, tanto é que até os bares, boates e restaurantes onde se encontram vários amigos, são constantemente vigiados. Retomei os meus estudos e pratico Yoga com Caio Miranda, um dos mestres mais respeitados nesta arte do Himalaia, exercitando a mente e o corpo, dentro dos princípios da “men sana in corpore sano”. Pela manhã estudo Francês na Maison de France e à tarde Filosofia, além de freqüentar o Conservatório de Música do Estado da Guanabara. A Livraria Ivanov que ficava na Rua Senador Dantas, próximo do Tabuleiro da Baiana, foi fechada pelo DOPS, considerada antro de subversão. Passei a freqüentar os “Sebos” que são livrarias que negociam livros usados, deixados, via de regra, por algum intelectual, que a viúva se queixava do mesmo tê-la trocado pelo prazer da leitura e por isto os vende no primeiro momento, o que é muito bom, porque encontramos obras raras e edições esgotadas. Tenho lido os poetas brasileiros e, gradativamente, vou remeter algumas poesias para o deleite do amigo, mesmo porque sei da dificuldade que é a aquisição de livros, aí em nossa cidade, de raríssimas livrarias, que se atêm aos didáticos. Quanto à música, continuo no Michel e no Le Rond Point, na Rua Fernando Mendes, em Copacabana, enquanto Rildo Hora e Altemar Dutra fazem o intervalo de Helena de Lima, na Boate Cangaceiro, que fica na mesma Rua, e nos encontramos sempre no final da noite, pela madrugada para amanhecer o dia tocando violão e cantando na Av. Atlântica, com o barulho do mar batendo na praia ao sol nascer. Gravamos o primeiro disco. Eu na RCA Victor e Altemar na Odeom. Acredito que ele fará mais sucesso, dado ao alto investimento da sua gravadora, mas vou batalhar. Meu único receio é meu envolvimento com a política estudantil e com a bajulação dos “Disques Jóqueis” que se há de fazer e eu sou contra, sem contar que tem que comprá-los ou gravar composições horríveis dos mesmos, senão não tem acesso na caitituagem ou no jabaculê.
Hoje conheci um grande poeta, sonetista dos maiores, que é professor do Colégio Pedro II, - J. G. DE ARAUJO JORGE. Vai um soneto dele:

OS VERSOS QUE TE DOU

Ouve estes versos que te dou,
eu os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos...e serei feliz...

E hei de faze-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei depois
relembrar o passado de nós dois...
esse passado que começa agora...

Estes versos repletos de ternura
são versos meus, mas que são teus, também...
Sozinha, hás de escuta-los sem ninguém
que possa perturbar vossa ventura...

Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revive-los
nas lembranças que a vida não desfez...

E ao lê-los...com saudade em tua dor...
hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez...

Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa
ao lado da cruz para onde eu vou...

Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou.

(Poema de JG de Araújo Jorge
do livro "Meu Céu Interior" – 1934)
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Um grande abraço, do amigo de sempre,

Milton.

domingo, 16 de outubro de 2011

FELIZ ANIVERSÁRIO ILIANA

“Oh! bendito o que semeia”.
Livros... livros à mão cheia...
e manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
é germe - que faz a palma
é chuva – que faz o mar.”

Castro Alves


FELIZ ANIVERSÁRIO ILIANA

(Para um grande amor não vivenciado)

Não canto parabéns pra você,
Porque é a música mais chata do mundo;
Nem falo de amor vida a vida
Porque não nos pertencemos.
Não rezo missa
Porque odeio o clero vagabundo,
Nem digo tolices
Porque te desejo como amiga
e como eternidade.
Falo do amor... platônico
Que há na gente inteligente
Como a gente.
Falo da confirmação dos nossos entendimentos ,
Apesar da distancia luminar
Que existe entre nossos corpos
De segredos.
Falo da intimidade
Que se houvesse, nos diríamos
Verdades transcendentes.
Falo da identidade que há
Entre os deuses do Olimpo
De nossas consciências.
E a minha ciência
- o amor indefinido
E indiviso...
Mais psíquico que somático,
Mais etéreo que terráqueo,
Embora com saudade
Dos que vivem a matéria bruta
Do corpo a corpo,
Do chão a chão.
Falo do senão
Obrigatório do convencionalismo;
Do meu enredo de família,
Das minhas risadas francas,
Do silencio,
Da gônada do nada
Que une razões sem razão determinada.
Falo de nós dois.

Belo Horizonte, 1974.

ARROUBOS DA JUVENTUDE

O Colégio Ipiranga ficava na Ladeira do Sodré, em Salvador, capital do Estado da Bahia, em um casarão que no século XIX, abrigou a família do Poeta dos Escravos, o Condoreiro – Antonio Frederico de Castro Alves, também conhecido, carinhosamente, como “Cecéu”, que morreu aos 24 anos de idade, no Solar do Sodré. Na parte de traz do prédio, havia uma Rua por onde descíamos para a Ladeira da Preguiça, rumo ao Trapiche, numa ponta de mar já quase poluída pela ação dos homens, mas que ainda dava para se tomar o bom banho, fugindo dos ouriços e das águas vivas, que, via de regra, levava alguns, menos avisados, para o Pronto Socorro de algum Hospital. Fui internado naquela Instituição de Ensino, graças ao engendrado artifício de minha madrasta, que deu início ao afastamento dos filhos de Manoel Brito, viúvo, pai de três crianças órfãs de mãe, do lar paterno. Tinha que procurar me adaptar ao meio e ao ambiente, muitas vezes alegre e outras vezes triste. Nos intervalos das aulas de Latim, Francês, Inglês, Português, História, Geografia, Trabalhos Manuais, Matemática e Canto Orfeônico, íamos para o recreio, combinar, sobre o time de futebol que iria jogar na parte da tarde, antevendo a seleção dos que ficavam nos finais de semana, sem a saída que nos permitia visitar os familiares, e nadar nas águas limpas e gostosas do Porto da Barra, por onde passeavam lindas morenas, para o namoro ou para o delírio dos jovens mancebos, nos ocultos banheiros, pela madrugada. Beduíno, o mais hábil com a bola era um mulato magro, simpático, vindo de Ilhéus-Bahia, com seu irmão – Napoleão, por certo, filhos de prósperos fazendeiros de cacau. Formávamos o time: Adilson (no gol), Geraldo e Astrogildo (na defesa), eu e Beduíno (na linha de frente), isto, em razão de ser o Campo, pequeno, como se fosse uma arena para o Futebol de Salão, hoje, americanizado, denominado Futsal. Era um time de craques, imbatíveis. Beduíno, hoje seria um Neymar; Astrogildo – um Sócrates; Geraldo – um Junior Baiano; eu, como era apelidado – Ademir Menezes. Tão bons, que eram convocados no final de semana, geralmente no domingo, para ter a honra de jogar com o Diretor do Colégio – Dr. Ângelo Alves, apelidado Manga Rosa, por ser branco, ficando vermelho, quando aborrecido ou quando jogava bola. Já era praxe, indeferir o meu requerimento, de saída dos finais de semana, alegando mau comportamento, porque briguei com algum colega, no recreio ou no futebol. Confesso que era um pouco esquentado, mas o motivo maior, era para que eu estivesse presente no time que ele, Ângelo, iria escolher, a maioria das vezes, para ganhar. Adilson era um pretinho, valente, e gostava de brigar, todas as vezes que reclamávamos de um gol que ele deixou passar. Eu topava o confronto, e aí os dois ficavam mais duas semanas com as saídas cortadas, até o dia que me graduei em Jiu Jitsu e Capoeira, quando então, não mais houve confronto, para sorte minha. No ano de 1956 deixei o Colégio, e nunca mais os encontrei, com exceção de Napoleão, com quem me avistei na década de 80, na cidade de Ilhéus, como próspero comerciante e fazendeiro. Ficou a saudade dos tempos do bom futebol, das alegrias vividas e das amizades divididas, que a vida separa em rumos divergentes e o tempo não perdoa.

Feira, 04.10.2011.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

LANÇAMENTOS


DIA 29.09.2011 ESTAREMOS LANÇANDO O MAIS NOVO LIVRO DE CRONICAS intitulado "CRONICIDADE" e um CD DE MUSICAS COM 18 BOLEROS - "BESAME MUCHO", no PARQUE DO SABER, em Feira de Santana-Bahia, no horário das 20h00, com participação musical, coquitel e um bom papo com os amigos e amantes da literatura e da boa musica. Prontos para 2012 uma Coletânia com 04 livros e 11 CDs de musica, incluindo um CD de poesias - "VERSEJAR", declamadas com fundo musical. Estão todos convidados.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

TANQUE VELHO

. Tanque Velho da minha mocidade, dos meus brinquedos de criança, das minhas travessias aprendendo a nadar; dos peixes pescados para o almoço, secados ao sol, dependurados nas cordas, entremeados com as carnes bovinas que após secarem seriam armazenadas em barris de farinha de mandioca, para o feijão cozido de amanhã, degustado ao pé do fogão de lenha sentado no cepo ao lado de minha avozinha que viveu 104 anos praticando o bem e abrigando os desvalidos, distribuindo terras com os trabalhadores com o pioneirismo de quem faz a reforma agrária que os governos negam, procrastinam e enganam. Tanque de águas profundas ladeando a Fazenda do mesmo nome, no agreste do Quaresma por onde aflora o mandacaru, a escassa mandioca e o raro feijão, embora próspero para o fumo do charuto, do cigarro de palha e do cachimbo. Por ai andei de “badogue” em punho na caça dos passarinhos que a infância não distingue, por desconhecer o compromisso com a fauna. Tanque Velho de Guilherme e Ildefonsa, primos que se casaram para a formação de uma família que se respeita de onde saíram Manoel e Dande, prósperos e simples cidadãos honestos, prenhe de conhecimento, autodidatas que o tempo levou sem piedade antes da hora. Poderia ter sido o bebedouro particular do minifúndio, mas não foi, porque se permitiu a todos a divisão de suas águas para matar a sede dos animais da redondeza, numa repartição pregada por aquele que o homem mau em sua ambição e inveja crucificou. Ainda me lembro do “FIFÓ” e do candeeiro, reclamados por Badinho que não dormia se não estivessem acesos. Lembro do cerco de quarana, único lugar para as necessidades fisiológicas, cujas folhas substituíam o “TicoTico” e o suave “Neve”. Lembro da folha de juá que meu avô usava para escovar os dentes brancos que nunca foram examinados por dentistas, pela forma sadia que se encontravam.
Por ali passaram “Mitoi” o comilão, “Agrário” o peão das cantigas e da peleja de Cego Aderaldo e Zé Pretinho, que sabia de co. Tanque Velho sempre novo para as novas gerações, que não secou como não secam os olhos meus pelas lembranças de um tempo quando o homem ainda era puro e os casais se amavam, homem e mulher, porque se fez o mundo para a perpetuação da espécie. Do corredor com destino ao “Calço” e à casa de “Martide”, da casa de farinha e do beiju quentinho da mandioca ralada pelo cilindro circulando pela força do braço do homem impulsionando a Roldana; do bolo de puba da casa de Silvia casada com o vaqueiro Roque que meu avô abrigou, dando-lhes casa e terras para os seus sustentos. Tanque que se fez tanque pela mão do homem e que lhe retribuiu com a água para se lavar e para se beber. Por ali pousavam os marrecos e os “Espantas Boiadas”, depois de revoadas e cantos de acordar e fazer alegre o povo humilde. Se não fosses tu, com tuas águas calmas, eu não teria aprendido a nadar, inicialmente o nado de boi e depois o de braçada, que me deu condição para alcançar o mar. No cavalo em pelo, sem sela, apostei corridas, ganhando e perdendo algumas, que não tinha importância, porque o que valia era o prazer de sentir na velocidade o vento passando no meu rosto de menino levado pelo prazer de viver a vida sem as complicações da cidade grande, das ambições desmedidas e das disputas desleais a que o adulto se sujeita. Eu era feliz, chupando o azedo umbu, a jabuticaba e a cajá que colhia nas terras não muito férteis, mas satisfatórias da ultima gleba plantada no sertão dos meus antepassados, que não souberam administrar as sesmarias que o império os legou.
Feira de Santana,

Em um dia de saudade, do ano de 2011.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

DA LIBERDADE SEM MEDO À LIBERDADE SEM EXCESSO.

No ano de 1967, em plena ditadura militar, com os novos rumos da música e da cultura em nosso país, com uma influência catequética, absurda, prevendo o processo de aculturação que se deu, comecei a me distanciar da clave de sol, dos bemóis e sustenidos, indo em direção a formação de uma intelectualidade que não se alcança, mas que é tentada. A esta altura eu já havia lido os maiores escritores e filósofos, da Grécia, Roma, Itália, França, Alemanha, União Soviética, Portugal e Espanha, sem contar os brasileiros. Lecionava na Paróquia da Glória, no Largo do Machado, no Rio de Janeiro, tinha ojeriza por americano e inglês, pela forma imperialista de conduzir o mundo, subjugando os mais fracos e despreparados. Buscava uma metodologia de ensino para os meus alunos, vez que eram os mesmos, a maioria, filhos de pais separados, cada um com um problema vivencial maior que o outro. Era uma missão nova que eu experimentava. Neste exato momento de minha vida, encontrei um livro que foi determinante para minha formação como mestre e como aluno que somos a vida toda, sempre aprendendo e nunca sabendo.

• O livro – LIBERDADE SEM MÊDO, de autoria do escritor escocês, Alexandre Neill, que conta a história de SUMMERHILL, uma escola implantada na Inglaterra, fundada por ele, que se transformou na maior experimentação do mundo na outorga de lúcido amor e aprovação à criança. Obra especialmente recomendada a educadores, pais e psicólogos. Ali, ele ensina como que a sua liberdade, que pode ser quase plena, esbarra na liberdade de outrem. Ou seja – você pode entrar na biblioteca, escolher qualquer livro para ler, menos o que eu estou lendo, não podendo também perturbar a minha leitura. Você tem o direito de construir a sua própria formação, mas não pode intervir diretamente na formação alheia, tem que respeitá-la.
Deduzimos que a liberdade é importante para a formação do indivíduo, mas o excesso é pernicioso e por vezes causa estragos irreparáveis.
É o que está ocorrendo em nossa sociedade, no presente momento, quando deparamos com o apoio irrestrito, em decisão plena da nossa mais alta Corte de Justiça do País, permitindo e autorizando “A Caminhada da Maconha” e das demais drogas, por viciados e traficantes, numa afronta ao nosso ordenamento jurídico. É a Apologia ao Crime. A quem interessa esta caminhada? ...; Como explicar que em nome da liberdade de expressão e de manifestação, pode-se ir às ruas para pregar a sublevação dos costumes, dos princípios morais e do direito? Como entender que uma Ministra, possa dizer que fomos cerceados durante 25 anos em nosso direito de expressão e que por conseqüência justifica a permissividade e a libertinagem em lugar da liberdade.
Noel Rosa exorta em sua musicalidade, os princípios do Positivismo de Auguste Comte, preponderante para formação da Repúlblica:

O amor vem por princípio, a ordem por base
O progresso é que deve vir por fim
Desprezastes esta lei de Augusto Comte
E fostes ser feliz longe de mim.

“Teus filhos não são teus filhos. São filhos e filhas da Vida, anelando por si própria. Vem através de ti, mas não de ti, e embora estejam contigo, a ti não pertencem. Podes dar-lhes teu amor, mas não teus pensamentos, pois que eles têm seus pensamentos próprios. Podes abrigar seus corpos, mas não suas almas. Pois que suas almas residem na casa do amanhã, que não podes visitar sequer em sonhos. Podes esforçar-te para te parecer com eles, mas não procures fazê-los semelhantes a ti, pois a vida não recua, e não se retarda no ontem, tu és o arco do qual teus filhos, como flechas vivas, são disparados...”
“Que a tua inclinação, na mão do arqueiro, seja para a alegria”.
(KAHLIL GIBRAN).

É PRECISO DIFERENCIAR LIBERDADE DE LICENCIOSIDADE.

JUSTIÇA: Pobre justiça cega.
POVO: Infeliz o povo sem princípios morais, sem família, sem respeito humano, sem rumo e sem caráter, que abriga os arautos do caos.
É realmente triste caminhar em estradas tão divergentes.

Feira, 13 de julho de 2011.

MILTON BRITTO.

sábado, 18 de junho de 2011

DO LIVRO "CARTAS NÃO REMETIDAS"

Salvador, Colégio Ipiranga, Ladeira do Sodré, 09 de dezembro de 1952.




Estimado Irmão,


Hoje é o dia de seu aniversário e o parabenizo. Lamento não estar com você para comemorarmos esta data tão importante, mesmo não sendo costume de nossa família, contudo poderíamos nos ver e quem sabe tomar um guaraná Antártica com um bom pedaço de bolo. Como vão as garotas aí de nossa cidade? Aqui estou namorando uma garota que estuda na mesma sala de aula que freqüento. A dificuldade é que ela é aluna externa e mesmo morando nas proximidades, na Ladeira da Preguiça, só nos vemos no colégio. E as poesias? Eu me sinto privilegiado, vez que o imóvel onde se encontra o Colégio Ipiranga foi a casa do Poeta Castro Alves, o condoreiro, aquele que voa alto, que é “pequeno mais só fita os Andes”, poeta dos escravos de verve inigualável, que infelizmente morreu com 24 anos de idade deixando vasta obra literária, o que me inspira para escrever as minhas poesias, e da janela do andar superior fico muitas noites ouvindo gravações executadas em radiola de uma casa que fica de frente para o casario, musicas orquestradas com solo de violino que nos transporta para lugares desconhecidos, tenho a impressão que são musicas do grande compositor Tchaikovsky. Estou aprendendo os primeiros acordes do violão com Valdeck Veloso que é também meu professor de jiu jitsu. Quando retornar, nas férias de final de ano, espero podermos cantar nas areias de Itapoã, conquistando belas morenas, ao som de “Coqueiro de Itapoã, Coqueiro/ Areia de Itapoã, areia/ morena de Itapoã, morena/ saudades de Itapoã me deixa...”, dentre tantas canções de Dorival Caymmi, tomando banho de mar, jogando o futebol e dividindo amizades. Soube que você vai para Lustosa estudar em um colégio interno. Será que a opção é boa? Será boa intenção da madrasta ou ela quer nos ver longe de casa? Tomara que não seja ela uma das que teve de enfrentar Branca de Neve. Aproveito a oportunidade para lhe mandar uma poesia que escrevi para a sua apreciação.

JANELA.



Janela!
Altar de amores
E de fantasias...
Vigília breve
De eternais sabores,
Torpor das virgens
E das belas Marias.

Quantas noites,
Eu em ti debruço,
Buscava a brisa
No tardar da aurora...
Ah! Quem me dera
Aquelas negras noites
Que a solidão deslumbra
E a saudade chora.

Rompe a neblina,
À tepidez de beijos,
A dócil Lucia...
E o nosso amor declina.

Tu és abrigo
Na tenaz madruga...
De mil amores
Tu serás divina.


Um grande abraço,

Do mano Milton.


Publicado em 14.05.2011.

domingo, 12 de junho de 2011

HERÓDOTO

"Os arqueiros curvam seus arcos quando querem atirar e os afrouxam quando o alvo é atingido. Se os arcos fossem mantidos sempre retesados, quebrariam e falhariam quando o arqueiro precisasse dele. Assim é com os homens. Se constantemente se dedicarem a um trabalho sério e jamais relaxarem um pouco com um passatempo ou uum esporte, perdem o bom senso e enlouquecem".

A MORTE DE HERÓDOTO

"O melhor homem é o prudente no conselho e ousado nos atos. "
Herodoto

Heródoto viveu de 485 à 420 ac. Considerado o pai da história, escreveu ao seu tempo os fatos importantes, as guerras, os governos, os homens e os feitos dignos de registro. Homem de muita sabedoria entendeu que através da história a raça humana evolui, mormente com os bons exemplos para a formação do caráter, conhecendo os descaminhos para nos livrarmos da maledicência. Esta é a forma pela qual o homem busca o conhecimento. Deveríamos e devemos cultivar este ensinamento, mas não foi o caso, neste Município denominado Feira de Santana, Cidade Princesa. No ano de 1980, conheci de perto o Paço Municipal e presenciei a importância da história com a exposição de fotografias em belas molduras, de Intendentes e Prefeitos que administraram a nossa Cidade, afixados nomes e datas de suas gestões. Salão Nobre, com móveis coloniais, prataria, tapetes e cristais. Decorridos duas décadas, reformaram-se o prédio, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico, misteriosamente, sumiram os quadros com os retratos, as molduras, e todos os demais objetos de valor, o que foi constatado no inicio do ano de 2009. Passaram-se dois anos e a busca continuou, até que um abnegado cidadão pôde encontrar nos porões da ignomínia e da ignorância o que restou deste acervo. As molduras segundo se depreendem de informações, foram leiloadas, após retirarem os retratos que foram desprezados, jogados no lixo do autoritarismo descabido e doentio, alguns rasgados e até cortados com estilete, como se tivesse destruído a história deste município, como se não houvesse passado, estabelecendo um marco, antes de 2000 era o nada. Vândalos, algozes da história e do conhecimento humano assumiram um poder como outrora fora exercido, pelos que destruíram a Biblioteca de Alexandria, os papiros, os livros e as artes, para que não se deixasse rastro do passado, que foi um dia presente projetando o futuro. Sem passado não há presente nem futuro. Que possam entender esta premissa, os verdugos, vândalos, incultos senhores, déspotas, algozes do saber. Que se possa restaurar ainda a nossa história, em nome da dignidade, valor dado a bem poucos. Mataram a História.
Que ressuscitem Heródoto e se recomponha a História.

Feira, 12 de junho de 2011.
Milton Britto.

sábado, 30 de abril de 2011

MARCUS TULIUS CICERO E OS CATILINAS DE HOJE.


"Quosque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?"


No ano de 63 A.C. Roma não era um Império. Era uma República (Res - Publica = Coisa Pública).

Na República Romana o mais alto cargo que um Senador ou um político podia almejar era o de Cônsul.
Havia uma conspiração contra a Republica e Catilina pretendia liderar.
Neste ano de 63 A.C. um dos dois cônsules eleitos pelo Senado era um homem chamado Marcus Tullius Cicero, que passou à posteridade simplesmente como Cícero, o maior de todos os oradores romanos, e o mais respeitado jurista da República. Foi também grande estadista, filósofo e político.

Ocorre que um nobre cuja família havia empobrecido e perdido a influência chamado Lucius Sergius Catilina ambicionava também o cargo de Cônsul. Para tentar conseguir seus fins, liderou uma conspiração a fim de executar um golpe de estado, para que ele próprio pudesse alcançar o cargo de cônsul. Mas além de corrupto era indiscreto, e sua conspiração logo ficou conhecida de todos.
Cícero então pronunciou no Senado uma série de discursos, as famosas "Catilinárias", denunciando Catilina, e a Primeira Catilinária começa com uma frase famosa:

"Quosque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?"
"Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?"

Em conseqüência dos discursos de Cícero em defesa da República, Catilina teve de abandonar Roma para nunca mais voltar, exilando-se na Grécia.


O Coronel Hugo Chavez, Presidente da Venezuela, é hábil em criar factóides, a falar leviandades, e desrespeitar homens e instituições.

No dia 11 de Novembro de 2007, em uma reunião com Chefes de Estado de língua Ibérica, o Rei de Espanha não se conteve e disse-lhe: "Calate!"

Seguindo o exemplo do Rei de Espanha, está na hora de nós cidadãos, que pagamos o salário de parlamentares, inclusive de irresponsáveis detratores, lhe dizermos "Calate!"

Quosque tandem, da Silva, abutere patientia nostra?

É preciso parar os criadores de factóides e os próprios.

Em 1972, no Poema Nº 14, já vaticinava o Poeta:

“...Este espectro da vida/este misto de sordidez/e fingimento;/este galanteador das prostitutas;/este lacaio da nobreza espiritual;/este Maria vai com as outras/este foragido da sinceridade;/este cancro da tranqüilidade;/este filho da puta/este Caim do século XX;/este enganador/este canalha;/este que não pensa/faz ofensa;/este que engabela/e mente;/este esgoto do vernáculo;/este festival de frustrações;/este donzelo do respeito ao próximo;/este castrado do amor platônico;/este puto do dia a dia;/É a representação mínima/da gleba ignara/ que vive em meus versos/ o nojo e a tristeza/ do Ser.
O crápula deve ser exilado do povo. REFLITAM!...

Feira de Santana, 23/04/2011.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

REVIVENDO SHAKESPEARE


Não faz muito tempo, um jovem mancebo, foi presenteado com fotos e documentos, de um grande amor da adolescência, que se foi cedo desta vida. Conheceram-se no final da década de 50. Ele, que não era filho dos Montéquius, jovem, vindo dos seus estudos secundários realizados na Capital, em Salvador, retornando à querida Feira de Santana, Princesa do Sertão, enamorando-se de diversas moças, lindas e fagueiras desce chão de Georgina Erisman e Maria Quitéria, dentre tantas, a moçoila da Avenida Senhor dos Passos, que não era filha dos Capuletos, foi a preferida, a mais querida, pela sua meiguice, honestidade e dedicação aos estudos, a família e aos amigos, de fidelidade impar e ingenuidade ainda maior. Poderia ter sido a sua companheira para o resto da vida, mas os seus destinos, traçados previamente pela mão do acaso, tinha rumo divergente. Ele, seguiu para o Rio de Janeiro, abraçando a carreira artística e os estudos complementares até a universidade da vida e dos ensinos especializados. Foi cantor, compositor, musico, poeta, filósofo e poliglota, viveu amores cariocas, esbanjou a mocidade, retornando, vinte anos depois para o torrão natal por adoção, cumprindo o destino que vaticina – “o bom filho à casa torna” . Ela, a jovem da avenida cantada pela poetisa Irmã Amorim, tomou outro rumo, por não ter outra opção, vez que o seu amado não mais alimentava esperança de um retorno breve. A vida tinha que seguir. Ela se casou com outro, por força das circunstâncias, para constituir família. Viveu pouco. Em um momento de infelicidade que dona divergência prepara sem pré-aviso, faleceu na estrada que leva para a outrora cidade de Almas, hoje denominada Anguera. Ficou a saudade de um grande romance que poderia ter sido romanceado pela sua pureza e grandiosidade. Em data recente, ele, recebeu outra foto da doce criança, mulher, exemplo de cidadã, gente na acepção da palavra, nobre no seu vestir e no seu porte. Foi ai que o Romeu do século XXI, resolveu prestar a ultima homenagem àquela que foi a sua Julieta, para que leia lá no céu, onde deve se encontrar arrodeada de anjos e querubins. Encerrando disse: Por mim, para mim e para ela, uma poesia do Poeta maior, autor dos Lusíadas, peça literária universalmente analisada pela intelectualidade, da casta língua lusitana.


Alma minha gentil, que te partiste



Tão cedo desta vida, descontente,

Repousa lá no Céu eternamente

e viva eu cá na terra sempre triste.



e lá no assento etéreo, onde subiste,


Memória desta vida se consente,


Não te esqueças daquele amor ardente


Que já nos olhos meus tão puro viste.


E se vires que pode merecer-te


Alguma cousa a dor que me ficou


Da mágoa, sem remédio, de perder-te,


Roga a Deus, que teus anos encurtou,


Que tão cedo de cá me leve a ver-te,


Quão cedo de meus olhos te levou.



Luís Vaz de Camões(1524-1580) “Amar é ser vencida a razão pela tolice” (Shakespeaare, em “Os dois cavaleiros de Verona” 1594-1595)). “Se não te lembram as menores tolices que o amor te levou a fazer, é que jamais amaste” (Shakespeare – em “Como Gostais” – 1599-1600).

Feira, 30 de março de 2011.

domingo, 10 de abril de 2011

CIRCO NERINO


Ali, logo ao lado da Igreja da Matriz, onde se instalou a Praça Padre Ovídio, onde ganhei o meu primeiro beijo de Ana Maria, havia uma área imensa, erma, que servia para montagem dos circos que aqui chegavam para a distração das crianças, adultos e idosos. Gente de toda a região aqui aportava, para se deslumbrar com os acrobatas, malabaristas, ilusionistas, mágicos e palhaços, finalizando o espetáculo com uma peça teatral. Em um ano que vai longe, chegou à nossa cidade o Grande Circo Nerino. Via de regra, o nome do circo era o do proprietário que atuava como palhaço, a maior atração da garotada. Nesta oportunidade, apresentou animais de todo tipo, incluindo um leão que seria exibido com o seu domador, que sempre o dominava, sem qualquer risco para os espectadores, mesmo porque o animal ficava numa jaula e vinha para o picadeiro transferido para um cercado de ferro com altura aproximada de cinco metros. Ainda criança, assisti ao espetáculo, com a inclusão de um globo com estrutura de ferro, com motociclistas fazendo acrobacias, cruzando-se em velocidade. Uma coisa incrível. Seguia o show. Apresentou-se o palhaço em companhia de outros, fizeram gracejos e a platéia ria sem parar. Lembro-me quando um deles tentava atingir o palhaço Nerino com a mão no seu rosto e ele se abaixava devolvendo o tapa que atingia o seu opositor. Eu refletia – “é assim, quando alguém injustamente tenta nos atingir, é só abaixarmos e devolver a agressão na mesma proporção, mostrando quem é o bobo”. Era só alegria. De repente, veio o leão, aparentemente manso, não se sabendo o porquê, transforma-se em fera indomável, pulando o cercado, fazendo com que todos se abrigassem na Igreja, templo de reflexão, irmandade, confissão e oração. Passado o perigo, voltamos para o circo, vez que, restava a apresentação da peça teatral. Título da peça – UM BOBO NA CORTE DE ÁVILA. O cenário, ao fundo, apresenta uma localidade citadina e um povo cosmopolita, denominado “santanilho”, ou seja, vindo de Santana. O Rei, que construiu muitos Castelos, levando a alegria dos súditos, quedava-se tranqüilo, enquanto irado sacerdote do apocalipse, arauto de fariseus, pantomima de mãos perversas, praguejava desesperado, pronunciando impropérios, sem qualquer lógica ou razão. Naquele momento verificou-se que entre o Monarca e o sacerdote havia uma grande cortina invisível aos olhos dos incautos. Disse o Rei, dirigindo-se à platéia: “Quem dos senhores, puritanos todos, que sei, não vê que entre minha pessoa e o detrator existe uma distancia luminar entre a razão e o falso”? – O populacho que muitos pensam ser acéfalo, demonstrou sabedoria, recolheu-se por um instante e, ouvindo o Conselho dos Sábios, respondeu – “Meu Senhor! Refletimos bem e sabendo que não se atira pedra em árvore que não dá bom fruto, concluímos que Vossa Majestade se encontra incólume às atribuições falsas deste falastrão engalanado, almofadinha de além túmulo, por onde campeia a maledicência, que tem como único projeto apresentado à Corte, a proibição de exposição de Urna Funerária, por ter medo de sua própria sombra, escondido sempre na sombra alheia”.

Dito isto, baixa-se a cortina e o povo aplaude, ovacionando o Reino.

Feira de Santana, 09 de abril de 2011.

sábado, 19 de março de 2011

OBRAS LITERÁRIAS E MUSICAIS





BRINQUEDOS DE CRIANÇA



Quando criança, ainda, com quatro anos de idade, tenho por lembrança, os meus primeiros brinquedos e traquinices. Na casa de meus pais, um casarão localizado na Rua Direita, na parte de baixo ficavam a sala, a cozinha e um quintal imenso que terminava na Rua de Aurora, onde subíamos nas arvores, brincando de gangorra, amarrando duas cordas em um galho e na parte de baixo uma tábua para sentar, enquanto alguém nos embalava, se revezando eu e meus dois irmãos. Na parte de cima, um Sótão, com uma escada por onde eu descia pelo corrimão, fugindo das palmadas de minha futura madrasta. Tenho lembrança dos três carneiros que ganhamos de presente de meu pai, com os quais íamos para o Rio de Jacuipe, para tomar banho e banhar os ovinos grandes e lanzudos. Tínhamos medo de um personagem de rua chamado “Seca Fonte”, doido, inofensivo, mas que os adultos usavam-no para amedrontar a criançada, dizendo que ele apresentava perigo. Não sei que fim levou o pobre coitado.
Na rua, brincávamos de “picula”, que era uma forma de um conseguir pegar o outro que se esquivava; o chicotinho queimado era representado por uma varinha que escondíamos para que alguém a encontrasse e quem conseguia a proeza corria atrás dos outros para cipoar. Tinha a “boca de forno”, que começava assim: “Boca de forno. Forno. Tomai um bolo. Bolo. Fazei o que eu mandar? Sim!” – Seguia uma tarefa que cada um tinha que cumprir. Por exemplo – Missinho vai dar um beijo em Aninha. Realizada a tarefa, seguia-se outro e mais outro. Aquele que não cumpria a tarefa tomava “bolo” na palma da mão, ou seja, estendia-se a mão, enquanto outro lhe batia com as mãos. Os barbantes que amarravam os pães serviam para construirmos com as mãos formas diferentes, enredando-os com os dedos, até se esgotarem a capacidade de novas formas. Mais parecia uma teia de aranha. Os peões com as cordinhas, eram jogados e giravam, quando os mais habilidosos apanhavam-nos com as mãos fazendo piruetas. Para as corridas, marcávamos com giz uma linha para a partida, ficando todos alinhados, indo para um outro ponto, sendo vencedor aquele que chegava primeiro. Algumas vezes dava discussão e até briga. Nada que não se podia contornar. Lembro do dia que Edinho, vindo da padaria de Seu Abelardo, brincando de cego, tateando com as mãos a parede das casas, não percebendo o recuo da porta, bateu com a testa na quina da parede, o que lhe valeu um corte pequeno, sangrando, que nos preocupou. Nunca mais ele quis saber deste brinquedo. Esses brinquedos da primeira infância perderam a motivação, quando chegaram, vindo da capital, dois irmãos, Renatinho e Dudu, netos de Abílio Ribeiro, com seus carrinhos de dar corda, um mecanismo moderno para a movimentação dos mesmos, causando-nos inveja. Brinquedo de rico. Em 1945, minha mãe morre vítima de picada de “barbeiro” (inseto hemíptero), (doença de Chagas), que aumenta o volume do coração levando o paciente a óbito. Mudamos para a Rua Santos Dumont, próxima da Praça Froes da Mota e da Rua São José. Esquecemos da humilhação de não podermos possuir brinquedos sofisticados e passamos a fabricar os nossos. Aí, construímos patinetes, com tábuas que conseguíamos de caixões desmontados, sendo que, na parte de baixo abríamos dois cortes introduzindo rolimãs e na parte da frente uma borracha de câmara de ar de pneu de carro, fixando as duas partes, sendo que, a superior atuava como guidom. Surgiram os carros de madeira que também fabricávamos com o auxilio de Francisquinho, filho de bom carpinteiro, que se encarregava dos detalhes. A pista era o passeio na lateral esquerda da Rua São José, cujo quarteirão era ocupado pela casa de Manoel Brito e um prédio onde funcionava uma Pensão, que me inspirou muitas cantorias do repertório de Dick Farney, com o fito de conquistar a filha da pensionista, que terminou se casando com um amigo espanhol que lhe apresentei. Perdi a futura namorada e o amigo. Na adolescência os nossos brinquedos se restringiam aos jogos de bolas de gudes; empinando arraias (pipas ou papagaios); futebol de campo e de salão, nas várzeas do Campo Limpo ou do Feira Tênis Clube. Dali, saíram grandes craques como Adilson, Val, Chinezinho, Nego Minho e outros. Enquanto isto, nas portas das casas, ficavam as meninas brincando e cantarolando “Escravos de Jô”, “Ciranda, Cirandinha” e nas festas de São João, pulando fogueiras, faziam-se compadres e comadres. Tempo do Cinema Íris com seus filmes de Caubói às segundas-feiras, com Buck Jones, Zorro, Roy Rogers, Tarzan o Rei das Selvas com sua macaca Chita e sua mulher Jane. Tempos que se foram e que não voltam mais. Os brinquedos acabaram-se, os cinemas fecharam-nos, as crianças cresceram, os rapazes se foram, os adultos morreram em suas inocências de homens íntegros, ou estão morrendo de desgostos e de tristeza, por não conseguirem socializarem e humanizarem a sua própria raça. Resta o mito, como consolo. O homem ama a Deus, que ama o homem que não ama o homem. É preciso descobrir a criança que existe em cada um de nós, com mais amor e menos crendice absurda em deuses que castigam quem não os reverenciam.

Feira, 12 de março de 2011.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

MEIA TRÊS





Meia três!... Ponto de encontro de mariposas e zangões. Ladeira da Montanha, Salvador-Bahia, décadas de 50 e 60. Numa casa estilo antigo, simples, humilde, abrigo de muitas mulheres, “perdidas”, desencontradas das famílias e encontradas na “Zona”, também chamado Baixo Meretriz, Prostíbulo, Lupanar (termo bastante usado pelo poeta Augusto dos Anjos), casa de encontros amorosos entre homens e mulheres vindas de todas as plagas, para o deleite dos iniciados na arte do sexo e para o exercício sexual dos boêmios versados no Kamasutra. Lá de cima, imóvel, o Condoreiro, o vate dos escravos, em estátua, como que observando o andar de gente passante a bebericar, a sorrir e a cantar a sua prima alegria ou seu ultimo fracasso, repetindo a gravação na voz de Chico Viola, nos versos de Mario Lago – “Relembro sem saudade, o nosso amor; o nosso ultimo beijo e ultimo abraço; porque só nos restou da história triste deste amor, a história dolorosa de um fracasso!...”. Assim, segue o seresteiro vindo das noites/madrugadas, da Mouraria, onde, com violão bem tocado e voz grave, encanta a sua morena na sua baianidade de mulata bonita, roliça e arredondada, de contornos gloriosos. Antes do sereno, a apresentação na Boate Clok, no Largo dos Aflitos, que o tempo levou e transformou no atual “Bahia Café”, e, sem negligenciar, uma passagem pelo “Tabaris Nigth Club”, que ficava ao lado do Teatro Guarani, na Praça Castro Alves, próximo do edifício do Jornal “A Tarde”, de Simões Filho, para o tango portenho, da orquestra bem regida do maestro. Para se ir ali tinha que ter “negócio”, grana, ousadia, perspicácia e preparo no jogo de capoeira de Mestre Bimba, para não se embaraçar na malandragem e sair apanhado, surrado, de tapa e pontapé. Orquestra com músicos e cantores bem vestidos, de Smoking. Cantores como Ray Miranda e Osvaldo Fahel, passaram por ali. No centro a pista de dança para o bolero, o tango, a salsa e a rumba, com mulatas rebolativas. Depois da dança gostosa, a salvação era o - 63 “meia três”, quando, com alguns cruzeiros se chegava ao ápice da - “junção carnal”. O Tabaris, em 1968 fechou as portas e na parte da frente abriram o Bar e Restaurante Cacique, onde se encontravam estudantes para o lanche e o bate papo, ficando as noites para os intelectuais e boêmios. Também não vingou. Ficou o poeta em estátua, guardando a praça para os encontros carnavalescos dos Trios Elétricos, - esta geringonça barulhenta que acabou com o romantismo das danças, nos bailes dos Clubes - Português, Fantoche, Baiano de Tênis e tantos outros, ao som de Chiquita Bacana, Sasaricando, A Estrela Dalva, Jardineira, etc., para os pulos enlouquecidos de bêbados ensandecidos em cotoveladas sangrentas, até se organizarem em cordões os foliões como se fossem gados em correrias ao estrondo de mil decibéis, todos surdos.
Encerro com Adelino Moreira: “Vai longe o tempo em que se a noite era de prata, violões em serenatas enchiam o céu de amor...”.


Praça Castro Alves - Salvador - Bahia - Brasil
O Tabaris localizava-se atrás do primeiro prédio, à direita, na foto acima.
O Tabaris Night Club foi fechado oficialmente em 1968, porSandoval Leão de Caldas, seu último proprietário. Uma dasmaiores Casas de Espetáculos da Bahia, situada em Salvador,sua capital. O prédio onde funcionou o Tabaris fica na PraçaCastro Alves, sua fachada assiste o mar da Baía de Todos osSantos. Ainda está lá. Mas o Tabaris vive só na memória dosque sobreviveram. Seu clima noir...surgiu junto com os anos 50,os anos dourados. Presto aqui uma homenagem àquela casaque conheci, e freqüentei, sendo seu último dono Sandoval.


Feira, 26.01.2011.




REVIVENDO STANISLAU


REVIVENDO STANISLAW


Hoje me deu uma saudade imensa do Rio de Janeiro e resolvi escrever este texto.

Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Marcus Rangel Porto, também conhecido como Sergio Porto. ATIVIDADE PROFISSIONAL: Jornalista, radialista, televisista (o termo ainda não existe, mas a atividade dizem que sim), teatrólogo ora em recesso, humorista, publicista e bancário,(definição dada pelo próprio). Conheci esta figura insuperável nos idos de 1963 em pleno Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, pouco tempo antes da “gloriosa”, nome usado pelo próprio para definir a ditadura de 1964, época de repressão, momento negro de nossa história que enterrou a intelectualidade e fez crescer o semi-analfabetismo conveniente aos imperialistas. Ele escrevia para o melhor Jornal de então – ULTIMA HORA, de Samuel Wainer, marido de Danuza Leão paixão de Antonio Maria outro jornalista espetacular. Para se ter uma idéia da importância deste Jornal, basta saber quem eram os demais colaboradores: - Tristão de Ataíde ou Amoroso Lima, da Academia Brasileira de Letras; Otto Maria Carpeaux, Paulo Francis o que raciocinava em bloco, - todos poliglotas, escritores conceituados. Nesta década eu lia Jornal do Brasil, Correio da Manhã, O Jornal, Ultima Hora, Lê Monde, Figaro, La Nation e o Time publicado em espanhol. Preferi sempre a Ultima Hora pela sua equipe e Stanislaw brilhava com as suas Crônicas e a publicação das “Certinhas do Lalau”, exibindo estonteantes vedetes de deixar água na boca e o corpo tremulo de um prazer frustrado. Lembro-me de Aizita Nascimento (Miss Guanabara), Betty Faria (Atriz), Brigitte Blair, Carmen Verônica, Eloina, Íris Bruzzi, Mara Rúbia (vedetes), Miriam Pérsia, Norma Bengell, Rose Rondelli, Sônia Mamede (Atrizes) e Virgínia Lane (conhecida Vedete do Brasil, que se gaba de ter sido a preferida de Getulio Vargas, com quem teve um caso amoroso). Sergio Porto ou Stanislaw era freqüentador assíduo do Michel e do Lê Rond Point, adorava um bom Uísque e mulheres bonitas. Dizem que “morreu de Coração e Trabalho”, laborando uma média de 15 horas por dia, fazendo o que mais gostava – escrever para jornais, revistas, rádio e televisão, inclusive para o programa de Chico Anísio.

Sua Obra:
Como Stanislaw Ponte Preta:
- Tia Zulmira e Eu - Editora do Autor, 1961- Primo Altamirando e Elas - Editora do Autor, 1962- Rosamundo e os Outros - Editora do Autor, 1963- Garoto Linha Dura - Editora do Autor, 1964- FEBEAPÁ1 (Primeiro Festival de Besteira Que Assola o País), Editora do Autor, 1966- FEBEAPÁ2 (Segundo Festival de Besteira Que Assola o Pais), Editora Sabiá, 1967- Na Terra do Crioulo Doido - FEBEAPÁ3 - A Máquina de Fazer Doido - Editora Sabiá, 1968
Com o nome de Sérgio Porto:
- A Casa Demolida - Editora do Autor/1963 (Reedição ampliada e revista de O Homem ao Lado - Livraria. José Olympio Editores)- As Cariocas - Editora Civilização Brasileira, 1967
Aqui vai uma certinha do Lalau –



Milton Britto, Feira, outubro de 2010.